Me sinto miserável no meu corpo
Olá, tenho 25 anos, comecei a minha transição há um ano (mtf). Nós primeiros meses foi a melhor época da minha vida, a sensação de que meu prazo de validade aqui nessa Terra foi estendido foi como ver o mundo em cores pela primeira vez. Minha namorada me aceitando e acolhendo prontamente, minha irmã, minha mãe, meu irmão... Exceto pelo meu pai.
Eu sei que é um tanto quanto batido esse negócio de pai transfobico, no meu caso nem foi tão ruim assim! Eu tive que aturar só uma vez ele falando que eu estava fazendo isso (transição) só para afetá-lo, que eu devia pensar nele, que isso era coisa da minha cabeça. Depois ele nunca mais falou comigo.
Isso meio que amargou tudo que veio depois, sabe? No início eu acho que eu subestimei a disforia que eu iria sentir, achava que as coisas iam melhorar, mas aparentemente tem que piorar muito antes. Desde a pandemia eu tenho seríssimos problemas de socialização, combinado com um diagnóstico recente (semana passada) de TEA. Moro com minha namorada, que também é autista, e nós passamos por uma série de perdas e traumas sérios desde 2019 para cá.
Tudo isso me deixou fraca, pelo que me pqrece. Eu tinha força de vontade e determinação antes que eu não tenho mais, comecei a fumar, sem exercícios físicos, e sinto que não tenho forças para sair dessa, muito menos quando a minha namorada fica em crise toda vez que eu tenho uma crise de disforia, que agora olhando daqui pode ser algo do autismo tbm, então fico com aquela sensação de solidão mesmo estando com ela.
A disforia é o demônio da vez, porém. Eu sinto que isso é uma facada com a faca ainda dentro, se eu tirar eu morro e eu só tenho chance de sobreviver depois que estiver tudo fechado, só que não dá porque tem uma faca lá ainda.
As crises de disforia me parecem mais sessões de tortura, que podem acontecer a qualquer momento, só pra foder com meu senso de quando as coisas vão ou não ficar bem, justo quando eu acho que está tudo bem ela volta pra me mostrar que não tem chance de achar um refúgio, nem tem como fugir ou fazer parar. Eventualmente eu passei a sentir que eu estou quebrada por dentro.
Talvez eu tenha muita transfobia internalizada (com certeza) e talvez sabendo do autismo eu obtenha umas ferramentas novas para lidar, mas eu não tenho como mentir para mim mesma: essa merda dessa disforia vai continuar porquê é uma maldição do meu corpo ou algo assim. Eu fico mal de ver ou ler sobre gente que começou a transição cedo pq tenho muito ressentimento de mim mesma de não ter me permitido começar antes a minha própria, fico mal de ver mulheres cis, que estão em uma situação que eu mataria para estar, fico mal de olhar no espelho, sempre com medo de ver um homem olhando de volta. Sei que existem cirurgias que resolvem isso, mas não tenho como criar qualquer esperança até que ela realmente exista, sabe?
Desculpa o textão mas eu preciso urgentemente desabafar. Minha psicóloga não tem ajudado e eu estou em um loop autodestrutivo horrível do qual ninguém parece conseguir me ajudar a sair.
Edit: ainda estava acordada e precisando desabafar, então pra quem quiser ler, Eu sinto que eu daria tudo para ter nascido uma menina cis desde o início e não ter nem que saber que esse sentimento existe, de vez em quando parece que questionar o próprio gênero é como a caixa de Pandora, ou algum cognitohazard até. Algo que não tem volta, pq sem isso eu não estaria viva hoje, mas todo o futuro tem um nível extra de sofrimento desbloqueado. Eu quero desesperadamente algo que faça a disforia doer menos, eu esperava que sorria menos encarando mas só aumenta a dor quanto mais eu vivo